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    89% dos varejistas brasileiros esperam melhora do setor em 5 a 10 anos

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    Fundadora da Mosaiclab, autora do levantamento, Karen Cavalcanti conversou sobre este cenário de otimismo com o Novo Varejo

    Lucas Torres

    [email protected]

    Os últimos dois anos foram de desafio absoluto para os varejistas. Das restrições de mobilidade que limitaram a circulação de pessoas no ambiente físico durante a pandemia da covid-19 e obrigaram o setor a se digitalizar como que ‘na marra’, passando pelo desarranjo da cadeia global de abastecimento e desaguando na instabilidade econômica do país, as empresas dos mais diversos segmentos tiveram de usar boa dose de resiliência para se manterem vivas.

    Todo este ambiente de adversidade, no entanto, não foi suficiente para tirar dos varejistas nacionais uma crença em um futuro promissor.

    Levantamento conduzido pela Mosaiclab, empresa do grupo Gouvêa Ecosystem, apontou que 89% deles acreditam que o varejo estará melhor do que é hoje nos próximos 5 a 10 anos.

    Além da resiliência característica do setor, os realizadores do estudo destacaram – no Latam Retail Show do último mês de setembro – dois fatores como propulsores primordiais deste otimismo: a melhora do faturamento em relação aos momentos mais agudos da pandemia e a percepção positiva em relação aos impactos que tecnologias como a inteligência de dados e o uso das redes sociais voltado às vendas terão nos próximos anos.

    Apesar do otimismo geral, porém, algumas questões conjunturais do país ainda seguem colocando uma pulga atrás da orelha dos varejistas. Neste contexto, quando perguntados sobre as principais barreiras para o desempenho do setor, os participantes do levantamento listaram velhos conhecidos como burocracia, alta carga tributária e instabilidade política.

    Para um mergulho mais fundo nesta percepção ‘do varejo pelos varejistas’, convidamos a fundadora da Mosaiclab, Karen Cavalcanti, para uma entrevista exclusiva.

    Novo Varejo – Em pesquisa realizada recentemente, a Mosaiclab revelou que 89% dos varejistas acreditam que o setor estará melhor do que é hoje nos próximos 5 a 10 anos. Levando em conta as questões abordadas pelo estudo, o que tem motivado tamanho otimismo?

    Karen Cavalcanti – O setor de varejo é muito amplo, engloba segmentos que foram duramente afetados durante a pandemia e outros que tiveram aquecimento. Os varejistas que conseguiram recuperar seus negócios, que mantiveram ou aumentaram o faturamento com o término da pandemia, são os que estão com a visão mais positiva de futuro.

    Além disso, outros fatores contribuem para essa visão positiva de aquecimento econômico no Brasil, queda de inflação e diminuição do desemprego. A Selic alta impacta nas categorias mais dependentes de financiamento, mas no longo prazo a perspectiva é de diminuição da taxa contribuindo para um cenário de melhor desempenho futuro para o setor.

    Karen entende que varejo futuramente se fortalecerá em pilares como digitalização, integração e proximidade

    NV – Você acredita que os varejistas enxergam uma relação direta entre tecnologia e evolução? Isso simboliza uma maturidade do setor que passa a ver a digitalização como uma oportunidade e não mais como uma ameaça?

    KC – É muito proeminente no uso de tecnologia em toda cadeia do varejo, é um dos setores que mais investem em tecnologia nos negócios e mais avançados tecnologicamente. Moda, farma, canal alimentar, são alguns dos segmentos com maior avanço tecnológico. A visão não é de ameaça, mas de transformação, evolução dos processos que contribuem para melhora de margens, agilidade e experiência de compra.

    NV – Muitas das barreiras de crescimento apontadas pelos líderes do varejo estão relacionadas com a conjuntura do país, como a questão tributária e a instabilidade política. Com isso, é possível dizer que os varejistas compartilham uma visão de que falta uma política de desenvolvimento do setor e da atividade empresarial como um todo no país?

    KC – As incertezas em processos eleitorais geram instabilidade política e econômica, mas é interessante observar que esses pontos não são relacionados apenas à conjuntura do momento, é um diagnóstico recorrente dos líderes do setor, principalmente a questão tributária, custo de mão de obra, custos de logística e burocracia que afetam muito a competitividade do varejo. 

    NV – No estudo, 71% dos entrevistados apontaram que o uso de inteligência de dados impulsionará o varejo nos próximos anos. Como você vê a relação entre essa percepção e o atual estágio do setor? Estamos, de fato, caminhando para um melhor uso dos dados no setor como um todo?

    KC – Vejo a inteligência de dados com um potencial muito forte no setor. Atualmente é muito usada para a parte mais operacional, mas há muitos campos para o uso da inteligência artificial preditiva para recomendação em tempo real e melhora de engajamento.

    NV – 67% dos varejistas afirmaram já terem faturamento maior ou igual àquele que tinham antes da pandemia da covid-19. Você vê alguma relação deste dado com as teorias que afirmam que a população está com um apetite mais voraz para o consumo após as privações do período pandêmico?

    KC – Estamos em um momento de readequação de consumo, o comportamento mudou durante a pandemia e novas demandas foram criadas. Apesar do impacto nos custos fixos de moradia e inflação, mesmo em queda, ainda está elevada a demanda população em vários segmentos, ainda há consumo contido em diversos setores, desejo de comprar mais roupas, de viajar mais, de consumir mais tecnologia entre outros.

    NV – Em resumo, a pesquisa conduzida pelo Mosaiclab projetou um varejo que daqui a 5 a 10 anos será…? 

    KV – A tendência é que o varejo daqui a 5 a 10 anos se fortaleça em pilares como Digitalização, Integração e Proximidade. A Digitalização é muito ampla, big data, inteligência artificial, machine learning, criptoativos, realidade aumentada, entrega conectada, lojas autônomas são alguns dos movimentos com forte probabilidade de crescer no setor. Integração de marcas, espaços digitais e físicos, espaços híbridos de experiência e consumo como food halls, também tem forte potencial para transformar o varejo e o consumo. O consumidor final está mais infiel pois tem muitas escolhas, é impactado por múltiplos estímulos e canais com isso o vínculo emocional, conveniência e formas de gerar recorrência que fortalecem a proximidade se tornam cada vez mais importantes.

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