Apesar do avanço, retração anual de 12% na confiança do consumidor mostra percepção negativa e registra queda pela décima terceira vez
O mercado de trabalho aquecido e a desaceleração da inflação têm favorecido o consumo das famílias, mas o cenário econômico ainda gera insegurança e pessimismo no longo prazo, na capital paulista. De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), em agosto, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) registrou alta de 2,7%, alcançando 111,9 pontos — porém com retração de 12,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado —, e a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) avançou levemente, atingindo 106,2 pontos.
Segundo a Entidade, a recuperação do consumo no varejo e da confiança deve ocorrer de forma lenta, dependendo da redução da inflação, da normalização do crédito, de avanços fiscais e da diminuição das incertezas externas. Esses fatores têm sido influenciados pelo cenário macroeconômico, em que o Banco Central mantém a taxa básica de juros em 15% ao ano, com uma política monetária contracionista. Além disso, as expectativas de inflação permanecem acima da meta, o que dificulta uma reversão rápida do pessimismo.
Otimismo sobre o futuro recua
A alta do Índice de Confiança do Consumidor de agosto foi impulsionada pelo Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA), que avançou 5,2% e alcançou 108,1 pontos, devido à percepção ainda positiva do indicador de emprego e do controle do crescimento dos juros.
Ademais, o Índice de Expectativas do Consumidor (IEC) registrou 114,4 pontos — sua segunda queda consecutiva em comparação com os meses anteriores — subindo timidamente 1,2%, com a percepção de cautela.
Na comparação anual, o ICEA caiu 8,3% e o IEC recuou 14,3%, reforçando a avaliação negativa do momento atual e o pessimismo quanto às perspectivas futuras.
No recorte dos componentes, apenas os consumidores de 35 anos ou mais demonstraram maior pessimismo em relação ao presente e ao futuro, enquanto os demais apresentaram variação positiva em ambos os indicadores.
Famílias estão mais cautelosas com compras
Dentre os subíndices do ICF, cinco apresentaram aumentos — Nível de Consumo Atual (+1,9%), Perspectiva Profissional (+1,3%), Perspectiva de Consumo (+0,8%), Acesso ao Crédito (+0,2%), Emprego Atual (+0,2%). No entanto, a leve retração anual, de -0,4%, do ICF aponta que o otimismo para compras ainda permanece frágil.
E os subíndices Momento para Duráveis e Renda Atual ficaram praticamente estáveis em relação a julho, mas, na comparação anual, os recuos são altos — de 13,8% e 5,2%, respectivamente, permanecendo na zona de pessimismo. Esses resultados revelam que o otimismo em relação ao emprego e à renda é pontual e não significa um aumento consistente do consumo em longo prazo.
Os consumidores estão mais cautelosos com compras de maior valor agregado, principalmente pelo encarecimento do crédito e pelas incertezas dos cenários econômicos interno e externo, que devem afetar também no emprego e na renda, como mostram as altas nos subíndices Acesso ao Crédito (+3,3%), Emprego Atual (+1,1%) e Perspectiva Profissional (+11,1%).
As famílias com renda de até 10 salários-mínimos registraram alta de 2% no consumo na comparação interanual. O avanço foi impulsionado pelo aumento nos indicadores de Nível de Consumo Atual (+3,8%), Perspectiva de Consumo (+2,6%) e Perspectiva Profissional (+1,4%).
No entanto, Acesso ao Crédito, Renda Atual e Momento para Duráveis recuaram. Um dos fatores que também afetaram o cenário do consumo foi o aumento do custo de energia elétrica — com bandeira vermelha — no mês de agosto.
O Índice das famílias com renda acima de 10 salários-mínimos recuou 0,6%, para 111,1 pontos. Na comparação anual, a queda foi ainda maior, de 6,5%, indicando consumo mais contido entre os de maior poder aquisitivo. Embora permaneça acima da linha de otimismo, o resultado revela retração no consumo planejado.