De acordo com analista da FecomercioSP, porém, momento pede cautela às PME’s do setor de varejo
Lucas Torres
Lançado no último dia 17 de julho, o programa ‘Desenrola Brasil’ foi a rota escolhida pelo Governo Federal para reduzir os números recorde de inadimplência do país. Atualmente, cerca de 70,1 milhões de brasileiros têm dívidas em atraso com bancos, empresas de cartão de crédito, financeiras, lojas ou serviços de utilidade pública.
Para o varejo, especificamente, a iniciativa tem sido vista com otimismo. Afinal, a capacidade de parcelar suas compras é um motor importante da força de consumo da população tupiniquim.
Recentemente, ao pesquisar o tema, o SPC Brasil concluiu que 79% dos consumidores locais costumam utilizar o parcelamento em seus pagamentos e que mercadorias clássicas do varejo como roupas e produtos eletrônicos estão no topo da lista dos ‘mais parcelados’.
A importância de ver seus potenciais clientes com crédito, inclusive, tem feito com que alguns dos maiores varejos do Brasil – como a Via, a Renner, a C&A e o Magalu – estejam se antecipando às etapas previstas no programa e aberto suas próprias condições de renegociação junto aos inadimplentes de seus cartões de loja e carnês, etapa que se iniciaria apenas na fase 1 do Desenrola, prevista para o mês de setembro.
Atualmente, apenas a fase 2 – cuja abrangência é exclusiva às dívidas bancárias – está em andamento oficial.
Assessor da FecomercioSP analisa possíveis impactos do Desenrola no varejo nacional
O fato de ter sido recebido com otimismo pelo setor varejista e, sobretudo, pela população, que já renegociou um montante de R$ 4,4 bilhões nas primeiras semanas do programa, já faz do Desenrola um sucesso inicial. Isso porque, de acordo com os economistas, o fator psicológico da melhora de índices como Confiança do Empresário e Confiança do Consumidor costumam trazer benefícios práticos para uma economia.
Para além da bolha de otimismo, porém, alguns empresários mais cautelosos ainda observam para ver os efeitos práticos do programa e – foi pensando neles – que consultamos com exclusividade o assessor econômico da FecomercioSP, Fábio Pina, acerca de suas expectativas sobre o impacto do Desenrola no varejo.
Segundo o especialista, é inegável que a recuperação da capacidade de crédito da população produzirá algum efeito no aquecimento do consumo do brasileiro. No entanto, medir a intensidade e a abrangência deste aquecimento é, na opinião de Pina, um exercício ainda de futurologia.
“O projeto é positivo e estimula pessoas endividadas a buscar os credores e ajustar a situação, ao mesmo tempo que estimula os bancos a dar condições melhores para que as pessoas voltem a ter o nome limpo. O efeito depende da procura que os consumidores com nome sujo terão para quitarem as dívidas. Essa procura também depende da capacidade dessas pessoas de pagar os passivos. Não dá para quantificar esse resultado ainda”, analisou o assessor da FecomercioSP.
Pina acrescentou ainda que a ‘limpeza oficial’ do nome de consumidores dos cadastros de inadimplentes é – muitas vezes – simbólica quando se trata da relação destes indivíduos com as empresas de varejo.
Isso porque, segundo ele, os empresários do setor não se baseiam apenas em um fator para avaliar o cadastro dos consumidores e tomar decisões de vender, em especial a prazo. Essa capacidade de ponderar a viabilidade de um parcelamento de maneira criteriosa será, aliás, chave para que o comércio nacional não sofra com uma ‘nova onda de inadimplentes’ ao venderem indiscriminadamente para pessoas que tiveram seus nomes retirados dos cadastros de endividamento.
Por isso, ele acrescenta que pequenos varejos que não tenham condições de realizar esta análise minuciosa por conta própria devem seguir afastados de modalidades mais arriscadas de venda a prazo – independente da condição do CPF de seus clientes.
“Estes negócios devem buscar um parceiro no setor financeiro para fomentar as vendas ou usar subterfúgios como o parcelamento no cartão de crédito. Essas são as atitudes de controle do empresário varejista”, concluiu.