Evento reuniu empresários e diretores de crédito e de cobrança de empresas nacionais de grande e médio porte para debater temas como inovações no varejo
O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) realizou, nesta quarta-feira (3/5), em São Paulo, o Encontro de Clientes Estratégicos. O evento reuniu empresários e diretores de crédito e de cobrança de empresas nacionais de grande e médio porte para debater temas como inovações no varejo, tendências do mercado de crédito, inteligência de dados, open finance e o cenário econômico do país.
Para o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Júnior, o encontro foi uma oportunidade para a troca de experiências entre grandes clientes do SPC Brasil e especialistas que são referência no mercado. “Somos um setor em constante transformação e o desenvolvimento das empresas que atuam conosco é fundamental para o crescimento sustentável do país”, afirmou.
Pellizzaro Júnior também destacou o papel do crédito no fomento e fortalecimento das atividades. “O SPC Brasil é o único birô de crédito 100% brasileiro, e o nosso trabalho mitiga o risco das operações de crédito, colaborando com o fomento das atividades econômicas e o desenvolvimento do país”, disse o presidente da maior base de dados de crédito da América Latina, com 280 milhões de pessoas físicas e jurídicas cadastradas.
Durante o evento, o Gerente de Inteligência de Dados do SPC Brasil, Christian Nascimento, fez o lançamento da plataforma SPC Lab, tecnologia que permite as empresas criarem modelos personalizados, com base nas metodologias mais avançadas de modelagem, e usar os dados do birô de crédito, bem como da própria empresa, para formatar projetos sob medida para os mais variados desafios de negócio. “Empreender não é fácil, mas com esta ferramenta, será possível definir a melhor técnica para o negócio e testar as variáveis, antes da implementação. É mais segurança para a empresa”, avaliou Christian Nascimento.
O SPC Lab dá acesso a informações do SPC Brasil sobre o comportamento dos consumidores, dados cadastrais e financeiros, geolocalização e dados sobre adimplência/inadimplência. Também conta com um time de especialistas, que dão suporte na elaboração de modelos personalizados.
Segundo Nascimento, com uso de um modelo de negócio sob medida, o tempo de implementação é reduzido em até 80% e a qualidade das vendas aumenta. “Não é um modelo de negócio construído com base na média, mas sim em parâmetros definidos pela empresa, o que funciona para ela. O resultado é melhoria na concessão de crédito, diminuição dos riscos das operações e ainda aumento das vendas. O SPC Lab transforma dados em resultados”, ressaltou.
Quem tiver interesse no SPC Lab, deve entrar em contato com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) mais próxima.
Compre agora, pague depois
Sem crédito, as vendas dos varejistas ficam prejudicadas. É o que afirmaram os participantes do painel “Inovação vem do varejo: compre agora, pague depois”, moderado pelo presidente do SPC Brasil. Os especialistas discutiram como a concessão e as estratégias de crédito são essenciais para os negócios do setor obterem resultados positivos. Neste cenário, o famoso crediário tem ganhado relevância.
A Havan vê no crédito uma das melhores estratégias para conquistar e fidelizar clientes. Patricia Christiano, que representou a rede varejista no evento do SPC Brasil, explicou que, hoje, o score do cliente já não é suficiente para a concessão de crédito. Por isso, cada loja precisa se adequar à realidade local, a fim de definir o crédito certo para a clientela daquela área de atuação. “Nos últimos anos, trabalhamos muito para definir políticas de crédito para cada filial, para cada estado, pois os públicos são totalmente diferentes. E com estas estratégias diferentes, conseguimos que as lojas tenham o mesmo resultado”, explicou.
Sandra Vieira, do Grupo Muffato – rede de supermercados –, disse que o seu ramo de negócio exige diferentes estratégias de oferta de crédito para o consumidor. “As classes mais altas querem desconto e as classes mais baixas querem prazo. Então, precisamos nos adequar para atender o adimplente e o inadimplente”, contou.
Virgínia Moreira, da Zema Financeira, observou que a concessão de crédito para o cliente é uma ferramenta essencial para que as vendas ocorram. “Varejo sem crédito não existe, seja para aumentar a condição de venda, seja para alcançar melhores resultados”, analisou.
Virgínia lembrou ainda que estratégias de crédito exigem investimento em tecnologia, para uma boa coleta e análise dos dados, bem como transparência e gerenciamento. Além disso, parcerias com os birôs de crédito também são importantes para o empreendedor conhecer bem o seu consumidor, inclusive, a Zema Financeira alimenta o Cadastro Positivos com dados de seus clientes. “Precisamos conscientizar o consumidor de que o Cadastro Positivo vale dinheiro para ele, por meio da oferta de mais crédito e condições melhores de tomada e pagamento”, destacou.
Cenário econômico
Na manhã de ontem, Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, esteve no evento realizado pelo SPC Brasil e acertou qual seria a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom): manutenção da taxa Selic – juros básicos da economia – em 13,75% ao ano. O Copom se reuniu nesta quarta-feira e só divulgou no fim do dia a sua decisão.
“A inflação vai entrar nos eixos gradativamente no mundo todo, e no Brasil, isso vai abrir espaço para o Banco Central começar a cortar os juros, gradativamente, a partir do segundo semestre. Ainda mantém os juros em 13,75% até junho, depois disso começa a sinalizar um corte e vai recuando. Em agosto, deve cortar 0,25”, cravou Caio Megale.
Megale disse que as economias ainda vivem reflexos colaterais da pandemia da Covid-19, mas estão em recuperação, mostrando força e resiliência. Apesar de estar em desaceleração, em razão das altas taxas de juros e da inflação no mundo, o Brasil tem sido beneficiado pelo aumento da demanda por comodities, movimentando não só o setor agropecuário, como também gerando fluxo para o segmento de Serviços. Diretamente, a agricultura e a pecuária respondem por 4% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, mas ao todo impacta 1/3 do PIB, sustentando o ritmo mais forte da economia brasileira.
“No ano passado, o PIB cresceu 3%, contrariando as previsões do início do ano, que era de 1,5%, e mostrando força”, afirmou o economista-chefe da XP Investimentos. “É claro que isso também foi puxado pelas comodities – o mundo favorável ao Brasil –mas em parte também o Brasil fez reformas importantes nos últimos anos no mercado de trabalho. Ainda tem a taxa de desemprego que caiu de 14% para algo em torno de 8%. É a economia voltando a funcionar e dando sinais de resiliência”, acrescentou.
No mercado de crédito brasileiro, há uma pequena desaceleração, um movimento natural, dada a alta de juros e outros fatores, como o caso das Lojas Americanas. Quando separados os créditos destinados para pessoa física (PF) e pessoa jurídica (PJ), o primeiro ainda está relativamente positivo e o de PJ está começando a cair mais fortemente.
“Na nossa avaliação, o grosso disso é juros altos. E se é uma resposta aos juros altos, então, está ótimo, porque estamos induzindo a desaceleração necessária. Isso significa que mais adiante vem o corte de juros para reequilibrar. Parece-me que é o ciclo normal do crédito, alinhado com o que está acontecendo no resto do mundo”, afirmou o Caio Megale.
Com relação ao novo arcabouço fiscal e a tentativa do governo de corrigir o crescimento dos gastos públicos, o economista avalia a iniciativa como positiva, mas tem dúvidas se realmente a arrecadação irá subir o necessário, fator fundamental para dar sustentabilidade ao projeto. “Se de fato as despesas crescerem de forma controlada e a arrecadação subir, a dívida pelo menos equilibraria. Mas tenho dúvidas se a arrecadação vai subir tanto, e o nosso resultado ainda seria um endividamento em ascensão. Esta é a grande incerteza”, disse.
“Se não conseguirmos equilibrar essa dinâmica da dívida (pública), mesmo que o Banco Central faça o seu trabalho de manter os juros onde tem que manter, a inflação não vai cair de forma sustentável, e poderemos voltar a ter aquele ambiente no qual o equilíbrio é garantido por juros e inflação um pouco mais altos”, destacou Megale.
“Neste equilíbrio de mais despesas e arrecadação em dúvida, a nossa expectativa hoje é de que os juros caiam para 11% (Selic) e a inflação fique rodando em torno de 5%, ou seja, uma taxa de juros real de 6% no primeiro semestre de 2024. Depois, o Banco Central vai tatear se consegue cortar um pouco mais, o que ocorrerá se o governo tiver sucesso na aprovação de um arcabouço fiscal que controle as despesas e consiga a arrecadação tributária para fechar a conta”, conclui.
O aumento da inadimplência também deve fazer com que, este ano, o crescimento do PIB seja mais baixo, perto de 1,5%. Para Megale, este também será o resultado do PIB em 2024, apesar de todo o cenário internacional favorável ao país.
O futuro do mercado de crédito
Roque Pellizzaro Jr. também conversou com João André Pereira, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central do Brasil (BCB), e Elias Sfeir, presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), sobre o futuro do mercado brasileiro de crédito. O presidente do SPC Brasil falou sobre a individualização da análise de crédito, com a criação do Cadastro Positivo.
“Antes, concedíamos crédito com base no comportamento médio do brasileiro. Hoje, conseguimos democratizar o crédito com o Cadastro Positivo, que permite calcular os riscos individualmente”, esclareceu Pellizzaro Jr.
De acordo com o presidente da ANBC, atualmente, o Cadastro Positivo (CP) tem 140,2 milhões de registros, sendo que 95% são pessoas físicas. Aproximadamente, 60% dos usuários recorreram, mais de uma vez, aos serviços desta modalidade de análise de crédito.
Na busca por aumentar a capilaridade do CP, a ANBC e o BCB estão assinando convênio, que concederá para o Cadastro Positivo acesso ao Sistema de Informações de Crédito (SCR), que conta com quase 1,2 mil fontes de informações e dados de crédito. Um aumento significativo no volume de informações, já que atualmente, o CP tem cerca de 170 bases de dados conveniadas.
“Com essas novas fontes de informação, vamos melhorar a prestação de serviços dos birôs de crédito, e obviamente democratizar mais ainda o acesso ao crédito”, ressaltou Elias Sfeir. “O próximo desafio é conectar o Cadastro Positivo ao PIX Parcelado, instrumento que permitirá ao varejo montar um setor de crediário, de maneira barata e segura, e aos cartões pré-pagos. Também queremos fortalecer o crédito como uma dimensão do ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), e o CP será uma ferramenta importante para isso”, acrescentou.
Apesar do fortalecimento e importância do Cadastro Positivo para o mercado de análise de crédito, o presidente do SPC Brasil lembrou que os cadastros Negativo e Positivo se complementam. “Toda a nossa indústria de birôs acreditava que haveriam dois produtos: um banco de dados positivo e outro negativo. Mas com o tempo, vimos que não era assim, e hoje os nossos produtos contemplam as duas bases, prática que alavanca negócios, com a democratização do crédito”, detalhou Pellizzaro Jr.
O representante do BCB apresentou a jornada do órgão regulador na inovação tecnológica e jurídica do sistema financeiro e bancário do país, como a modernização dos meios de pagamentos, a criação do próprio Cadastro Positivo e dos bancos digitais, o registro de recebíveis e o open finance, que já recebeu mais de 27 milhões de consentimentos de compartilhamento de informações entre instituições bancárias.
“Com o open finance, o cliente decide para onde os seus dados vão e com quem vai negociar e lhe dará o maior benefício. É o cliente no centro, tomando as suas decisões financeiras”, avaliou João André Pereira. “O Cadastro Positivo e o open finance juntos são ferramentas poderosíssimas no tratamento da assimetria de informação (de crédito), sem falar na simplificação de processos e melhoria da gestão financeira”, acrescentou.