Lucas Torres
No próximo dia 19 de setembro, o IBEVAR irá anunciar os varejistas vencedores das diversas categorias do Ranking IBEVAR-FIA 2023.
Para antecipar os principais apontamentos do estudo desta edição e discutir sua importância para o setor varejista, entrevistamos com exclusividade o professor Cláudio Felisoni, presidente do Instituto.
Confira abaixo a íntegra da conversa:
NovoVarejo – Para você, qual a importância oferecer aos varejistas um panorama geral sobre quais são os ‘benchmarks’ do setor anualmente?
Claudio Felisoni – O Ranking IBEVAR – FIA constrói um amplo panorama do varejo. São cinco dimensões: tamanho, eficiência, desempenho financeiro e imagem. Os benchmarks referem-se especificamente a questão da eficiência operacional, ou seja, a produtividade da operação considerando simultaneamente dois fatores de produção: lojas e funcionários. Essa comparação é obtida por meio da utilização de recursos de programação matemática.
A aplicação da técnica retorna o índice de eficiência (conjunta lojas e funcionários). Dois grupos são apontados: as empresas ditas eficientes e as menos eficientes. As eficientes são igualmente eficientes. Não se distinguem graus diferentes neste grupo. A razão é que algumas podem ser mais eficientes no uso das lojas outras no emprego dos colaboradores. As menos eficientes, não. Para elas a técnica estabelece níveis decrescentes de eficiência e aponta uma empresa do grupo das eficientes que seria o benchmark.
Decorre dessa indicação dois aspectos interessantes: a) a designação da empresa do grupo das eficientes que mais diretamente concorre com as menos eficientes; b) o paradigma a ser perseguido pela varejista qualificada como menos eficientes.
NV – Quais são as metodologias que o IBEVAR – FIA utiliza para definir os vencedores de cada categoria?
CF – Como são cinco dimensões em cada uma delas utiliza um procedimento. No caso do tamanho o IBEVAR – FIA se vale de uma pesquisa onde se buscam dados secundários (desk research): FIBGE, relatórios de associações de classe, publicações na imprensa e dados coletados diretamente junto às empresas varejistas. O Raking IBEVAR – FIA de eficiência utiliza as bases de dados secundários e, como dito acima, aplica modelos de programação matemática para o apontamento das empresas eficientes, as não eficientes e os benchmarks.
O ranking financeiro considera exclusivamente as empresas varejistas contadas na Bolsa. Finalmente o ranking de imagem, identificando tanto as empresas mais admiradas pelos consumidores como pelos colaboradores, utiliza algoritmos de IA Inteligência Artificial e NLP – Natural Language Processing.
Adicionalmente, todos os anos, procura-se colocar uma novidade. Nesse ano o Ranking IBEVAR FIA apontará, com base no comportamento de compra dos indivíduos, também as lojas mais admiradas pertencentes as redes dos segmentos varejistas monitorados.
NV – Recentemente, vocês introduziram a categoria ‘preferidos dos colaboradores’ no ranking anual. Você acredita que essa percepção interna, e o que ela reflete em termos de cultura, tem ganhado cada vez mais importância no que diz respeito à capacidade das empresas manterem um sucesso longevo?
CF – Na verdade, a identificação das empresas mais admiradas pelos colaboradores, foi incluída desde quando o IBEVAR FIA começou a contemplar a questão da imagem da empresa. A imagem, ao meu juízo, é o aspecto mais importante desse amplo levantamento, tanto na dimensão. consumidores como colaboradores. Uma empresa só existe porque existe o mercado. E a resposta que ela deve dar ao estímulo que vem do mercado depende essencialmente das condições internas.
NV – Como os insights do IBEVAR contribui para que as empresas possam avaliar ‘onde elas estão’ e definir estratégias que possam levá-las a outros estágios?
CF – O trabalho do IBEVAR FIA não traz o que todo mundo sabe. Traz sim informações que só estão disponíveis no seu relatório. Não basta saber quem são as maiores. O mais interessante é traçar padrões de comparação. Apontar como o exercício das atividades é visto pelos consumidores das varejistas. Ter consciência de como os colaboradores avaliam as empresas onde trabalham. Tudo isso obtido com técnicas estatísticas, matemáticas (redes neurais) que transcendem em muito a manifestação limitada expressa pela opinião de especialistas.
NV – Além das divulgações públicas, o IBEVAR oferece informações detalhadas da pesquisa para as empresas? Como isso funciona? Quais insights estão contidos nesse ‘material privado’?
CF – O relatório sintetiza um amplo conjunto de informações que por si se constituem em um rico material de referência para as organizações varejista. Entretanto, o IBEVAR FIA tem a possibilidade de realizar análises específicas por solicitação das empresas interessadas na distribuição de bens e serviços no Brasil.
NV – Qual a sua avaliação da pesquisa de 2023? O que ela reflete sobre o cenário do varejo atual na comparação com edições anteriores em termos de mudança de posicionamento e ênfase em determinados pontos por parte das empresas do setor?
CF – O varejo vem passando obviamente por um processo de transformação muito profundo. Esse processo começou a ser acelerado de modo mais intenso em 1994, com a edição do Plano Real. Ou seja, o Real marca de modo significativo o início dessa transformação. Obviamente o crescimento do varejo virtual, em especial durante e após a pandemia, é outro traço indelével característico desse movimento.
O Ranking IBEVAR FIA, graças ao levantamento de dados primários, consegue capturar muitas dessas tendências registrando-as anualmente nessa tradicional publicação.