Evento é esperado por muitos consumidores, especialmente os que desejam comprar eletroeletrônicos e eletrodomésticos, impulsionando o faturamento mensal do setor
Iniciada no Brasil em 2010 — seguindo uma tradição da metade do século 20 do varejo dos Estados Unidos —, a Black Friday reestruturou a sazonalidade do comércio paulista, o principal centro varejista do País, mostra uma análise feita pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O principal efeito foi que novembro, mês em que a data se realiza, se tornou o segundo mais relevante para o setor no ano, atrás apenas do Natal. Há 15 anos, ele era apenas o sexto melhor mês, considerando as receitas.
Os dados da Entidade mostram que o faturamento mensal médio do varejo do estado de São Paulo no mês de novembro em 2008 e 2009 era inferior a meses com eventos que costumam estimular compras, como julho (férias escolares) e outubro (Dia das Crianças), ou mesmo em períodos sem datas comemorativas, como agosto e setembro [tabela 1].
Entre 2012 e 2013, porém, com a consolidação da Black Friday, novembro já foi o quarto melhor mês do calendário dos varejistas daquele período, com um faturamento de R$ 84,4 bilhões. Na média dos últimos dois anos, 2023 e 2024, porém, novembro ocupou a vice-liderança de maior receita mensal do comércio varejista paulista ficando atrás apenas do mês dezembro.
Para a Entidade, a tendência é que os dois meses compitam cada vez mais entre si em volume de vendas e faturamento.
O aumento da relevância do mês de novembro fica ainda mais evidente ao observar a proporção que este mês possui na composição anual do faturamento mensal do varejo paulista. Em 2008, as receitas de novembro representaram 7,9% do total daquele ano. Em 2010, no primeiro ano da Black Friday, a taxa era de 8,8%.
Já no ano passado, esse número foi de 9,1% — o segundo maior da história, atrás apenas de 2020 (9,6%).
Nesse interim, em paralelo, a proporção das receitas de dezembro no total anual foi perdendo fôlego. Em 2024, o faturamento do mês representou 9,8% do total das receitas do setor, diferença de 0,7 ponto porcentual (p.p.) para novembro.
“A injeção dos recursos do 13º salário ainda é fundamental para manter o mês de dezembro como o grande momento do varejo no País”, observa Thiago Carvalho, assessor econômico da FecomercioSP que produziu o estudo.
“Mas é interessante notar como, a cada ano, a Black Friday, em novembro, se aproxima dos resultados do varejo em dezembro. Não vai demorar muito para ambos disputarem o posto de principal período de compras do Brasil”.
Transformação dos eletrodomésticos e eletroeletrônicos
A reestruturação do calendário do varejo por causa da Black Friday foi ainda mais intensa no caso de alguns segmentos — sobretudo os eletrodomésticos, eletroeletrônicos e as lojas de departamento.
Isso aconteceu, segundo Carvalho, porque à medida em que a data foi se consolidando, essas atividades foram se tornando os principais atores da Black Friday, além de venderem itens geralmente mais buscados, como smartphones, por exemplo.
“Na verdade, muitos consumidores adiam a compra desses produtos para o momento da Black Friday. Isso provocou um deslocamento do faturamento mensal desses segmentos em novembro”, explica ele.
Em 2008, a participação percentual do mês de novembro na receita anual da atividade de eletrodomésticos, eletrônicos e lojas de departamentos foi de 7,8%. Já no ano passado, essa taxa subiu para 10,5%.
Da mesma forma, se em 2008 a diferença das receitas desses segmentos entre os meses de novembro e dezembro era de 5,3 p.p., no ano passado ela foi de 0,3 p.p. — o que indica que, a cada ano, o penúltimo mês do ano tem se tornado tão importante quanto o período do Natal.
Com o amadurecimento da Black Friday quantificado, a Federação reforça como os segmentos do varejo devem elaborar estratégias cada vez mais adequadas para aproveitar o movimento da data. Isso passa por projetos de comunicação que estimulem os consumidores, a oferta de descontos reais e vantajosos e a facilitação do uso de diversos meios de pagamento.

