Em artigo, a co-fundadora e CSO da Divibank, Rebecca Fischer, reflete sobre impactos estratégicos do avanço do Pix e das mudanças dos hábitos de pagamento em geral no varejo
A Black Friday de 2025 não é apenas uma data de grandes promoções, mas um retrato das mudanças profundas no comportamento financeiro dos brasileiros. O levantamento Panorama de Consumo, do Mercado Livre, revela que o avanço do Pix o está consolidando como alternativa de pagamento, com 29% dos consumidores planejando utilizá-lo, um aumento de 10 pontos percentuais em relação a 2024. Ao mesmo tempo, o cartão de crédito, tradicional protagonista, recua de 54% para 41%. Essa inversão sinaliza mais do que uma preferência: evidencia uma transformação cultural, em que agilidade, controle e autonomia financeira ganham peso frente à conveniência do parcelamento.

O avanço do Pix reflete a maturidade de um consumidor mais consciente e estratégico. As transações instantâneas atendem melhor às compras de menor valor, enquanto o cartão de crédito permanece relevante para gastos mais altos e parcelamentos longos: 77% dos usuários planejam dividir suas compras, sendo que 72% optarão por até seis parcelas. Isso indica que o consumidor está calculando riscos e equilibrando necessidade imediata e capacidade financeira, em vez de agir por impulso.
O consumidor também está gastando mais e planejando melhor: mais de três em cada quatro entrevistados pretendem investir acima de R$ 500, e 24% projetam gastos superiores a R$ 2 mil. Além disso, 80% afirmam ter organizado suas compras com antecedência, e 47% já consideram presentes de Natal. Esses dados mostram que a Black Friday deixou de ser apenas um evento de compras rápidas e passou a integrar uma estratégia mais ampla de consumo, baseada em planejamento, comparação e antecipação de oportunidades.
Outro ponto relevante é o uso da tecnologia como aliada na decisão de compra. Quase metade dos consumidores (48%) pretende recorrer à inteligência artificial, como chatbots e assistentes pessoais, para localizar promoções. Esse comportamento revela que os consumidores estão cada vez mais habilitados a otimizar seus recursos, utilizando dados e ferramentas digitais para reduzir erros e maximizar valo, um movimento que transforma a própria dinâmica do mercado e obriga as empresas a repensarem suas estratégias de marketing e experiência do cliente.
Em termos estratégicos, os números indicam que empresas que ignorarem essas mudanças correm o risco de perder relevância. O avanço do Pix e a queda relativa do cartão de crédito não representam apenas uma preferência por conveniência, mas uma mudança estrutural no consumo, em que planejamento, controle financeiro e uso inteligente da tecnologia se tornam diferenciais competitivos. A Black Friday de 2025, portanto, não apenas consolida novas formas de pagamento, como também revela um consumidor mais informado, criterioso e estratégico, uma tendência que deve influenciar o comércio eletrônico e o varejo nos próximos anos.

