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    Presidente do IBEVAR modera expectativas para o trimestre de ouro do varejo

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    Por Lucas Torres, 16/10, às 10h22

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    Com dados exclusivos da entidade, Claudio Felisoni projeta o trimestre de ouro do varejo trazendo contrapontos ao otimismo exposto pelos dados do IBGE

    Outubro chegou e trouxe com ele um dos períodos de maior expectativa para o comércio nacional. Batizado de trimestre de ouro do varejo por especialistas do setor, o período relativo aos últimos três meses do ano traz com ele ocasiões como Natal e Black Friday, datas que, segundo instituições como o IBEVAR, são, respectivamente, aquelas que mais agregam vendas ao comércio em relação à normalidade observada na tendência anual.

    Apesar do fim do ano vir sempre carregado dessas expectativas positivas, porém, 2024 traz com ele particularidades capazes de trazer ainda mais excitação aos empresários do setor.

    O primeiro motivo para otimismo advém dos próprios resultados do varejo. Afinal, o setor tem apresentado uma recuperação importante ao longo de todo calendário – apresentando uma alta de 5,1% em relação a 2023 no acumulado do ano e de 3,7% no enquadramento dos últimos doze meses.

    Um outro ponto, não menos importante, está ligado ao fato de estarmos convivendo com uma taxa de desocupação de apenas 6,8%, a menor registrada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE desde seu início, em 2012.

    Em entrevista exclusiva ao NV, o professor titular da USP e presidente do IBEVAR, Claudio Felisoni, indicou que as projeções econométricas baseadas nos dados do IBGE apontam para um aumento de 3,84% no quarto trimestre de 2024 em relação ao mesmo trimestre de 2023.

    Claudio Felisoni é presidente do IBEVAR

    Apesar disso, faz ressalvas – indicando que o monitoramentos de sua entidade junto às redes sociais mostram que existe um movimento de diminuição de intenção de compra para este final de ano, sobretudo quando dados do setor de serviços estão incluídos nesta análise.

    Confira abaixo a íntegra da entrevista:

    NovoVarejo – O último trimestre do ano é historicamente reconhecido como o trimestre de ouro do varejo brasileiro. Se nos basearmos nos resultados dos últimos anos em datas como Dia das Crianças, Black Friday e Natal – esse ‘apelido’ ainda faz sentido?

    Claudio Felisoni – O varejo é uma atividade cíclica, ou seja, com significativas flutuações em relação a uma tendência histórica. Os picos ocorrem em certos momentos ou períodos. O IBEVAR monitora as vendas de todos esses episódios com recursos de IA-Inteligência Artificial e NLP – Natural Language Processing. Esses estudos recorrentes permitem estabelecer a seguinte ordem de importância (seguem esses eventos com a porcentagem estimada de vendas acima da tendência colocada entre parêntesis): Natal (dezembro de 35% a 40%), Black Friday (novembro, de 30% a 35%), Dia das Mães (maio, de 15% a 20%), Dia dos Namorados (junho de 12% a 15%), Dia das Crianças (outubro de 10% a 12%), Dia dos Pais (agosto de 8% a 12%), Páscoa (variável, de 5% a 8%), Volta às Aulas (janeiro e julho, de 5% a 7%), Semana do Brasil (setembro de 3% a 5%) e Carnaval (de 2% a 4%).

    Então não há dúvida que o último trimestre se destaca em relação aos outros períodos. Deve-se salientar, contudo, que nos últimos anos, ou seja, após a pandemia, em que pese o fato do Natal e da Black Friday manterem-se bem acima dos demais períodos, em alguns anos, para certos segmentos, a famosa promoção de novembro superou as vendas do Natal.

    NovoVarejo – Em 2024, chegamos a este período – em tese – com uma economia mais sólida, se olharmos para indicadores como nível de renda e ocupação. Diante disso, é possível projetarmos que este ano teremos um varejo mais pujante em relação aos últimos anos?

    Claudio Felisoni – Trimestralmente o IBEVAR – FIA divulga estudo amplo das disposições de compra considerando os dados do IBGE e levantamentos primários realizados nas redes sociais.

    A utilização de duas bases diferentes permite que se faça uma análise das tendências de consumo considerando diferentes perspectivas. Ou seja, os dados secundários estão organizados de acordo com uma classificação pré-estabelecida pelo IBGE (a priori). Por outro lado, a classificação obtida com os dados colhidos nas redes sociais advém da própria manifestação dos indivíduos (a posteriori). Deve-se acrescentar que a avaliação direta a partir das redes sociais permite que se examinem às disposições de consumo também de outros segmentos do varejo não contemplados pelas estatísticas do IBGE, tipicamente diversos serviços que são também operações varejistas.

    As projeções econométricas mostram um aumento de 3,84% no quarto trimestre de 2024 em relação ao mesmo trimestre de 2023 e de estabilidade, em relação ao terceiro trimestre de 2024. Para doze meses de 2024, projeta-se, neste momento, um aumento de 3,93%.

    Consta-se, portanto, uma recuperação das vendas nos segmentos monitorados pelo IBGE. Entretanto, os dados provenientes das redes sociais relativizam esses números. Ou seja, incluindo um conjunto de serviços pode-se ter uma visão menos promissora do volume de negócios.

    Com efeito, dos 42 segmentos, considerando o histórico de vendas, para apenas 6 segmentos registra-se um patamar alto das intenções de compra. A maioria posiciona-se em um nível baixo (52,4%). Além disso, para 31 segmentos, representando quase 74% dos segmentos observa-se redução do volume comercializado para o próximo trimestre.

    Esse resultado é consistente com as projeções econométricas para o último trimestre do ano (estabilidade em relação ao terceiro de 2024), porém claramente com um forte viés de baixa considerando uma visão do varejo devidamente ampliada. Portanto, em que pese o resultado positivo para o ano, segundo as projeções fundamentadas nas séries fornecidas pelo IBGE, pode-se afirmar que a evolução do varejo é instável, isto é, não se identifica, por enquanto, um crescimento sustentável das vendas ao consumidor final.

    NovoVarejo – Sabemos que quando falamos de varejo, estamos falando de um setor bastante heterogêneo – com diversas particularidades entre os segmentos que o compõe. Neste sentido, é possível apontar quais segmentos são aqueles que mais se beneficiam de períodos como este, de fim de ano?

    Claudio Felisoni – Os estudos sazonais do IBEVAR permitem apontar o seguinte perfil considerando o Natal e a Black Friday de maneira conjunta: Eletrônicos e Eletrodomésticos (90%-95%), E-commerce (85%-90%), Brinquedos e Jogos (80%-85%), Vestuário e Acessórios (70%-75%), Perfumaria e Cosméticos (65%-70%), Informática e Tecnologia (60-65%) e Smartphones e Acessórios (55%-60%).

    NovoVarejo – Ainda em relação ao contexto da última pergunta, é possível apontarmos quais são os segmentos que menos se beneficiam diretamente destas datas típicas do trimestre de ouro do varejo?

    Claudio Felisoni – Lojas de Materiais de Construção (5%-10%), Postos de Combustível (8%-12%) e Farmácias (medicamentos de uso contínuo, 10%-15%)


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