Juros e inadimplência elevados devem impedir avanço mais significativo das vendas no Dia das Crianças
A esperada desaceleração das vendas do varejo ao longo do segundo semestre deste ano deve se confirmar na próxima data comemorativa do setor no Brasil. De acordo com estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o volume no Dia das Crianças 2025 deverá registrar a movimentação financeira de R$ 9,96 bilhões. Confirmada essa expectativa, o varejo apresentaria, portanto, um avanço de 1,1% em relação ao ano passado.

Em termos de movimentação financeira, a data é considerada historicamente o terceiro evento mais relevante do calendário das datas sazonais do varejo nacional, ficando atrás apenas do Natal (R$ 72,8 bilhões em 2024) e do Dia das Mães (R$ 14,5 bilhões em 2025) em volume de vendas.
Assim como no ano passado, o segmento de vestuário e calçados deverá ser o destaque da data neste ano, respondendo por 27% (R$ 2,71 bilhões) do volume projetado para as vendas no Dia das Crianças, seguido pelos ramos de eletroeletrônicos e brinquedos (26% ou R$ 2,66 bilhões) e de perfumarias e cosméticos (22% ou R$ 2,15 bilhões).

O atual ciclo de aperto monetário produziu a maior taxa básica de juros (15% ao ano) em quase 20 anos. Para o consumidor, essa evolução dos juros básicos da economia representa um processo de encarecimento do crédito no qual a taxa média se encontra no maior patamar para meses de julho (57,65% ao ano) desde o ano de 2017, de acordo com dados do Banco Central.
Além de desacelerar a demanda pelo crédito, o maior peso do custo de contratação de empréstimos e financiamentos tem produzido impactos significativos sobre o nível de inadimplência do consumidor. De acordo com a CNC, o percentual de famílias com contas em atraso atingiu o maior
patamar (30,4% das famílias) da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) iniciada em 2010.

Paralelamente, de acordo com dados do Banco Central, a taxa de inadimplência das operações de crédito com recursos livres destinados às pessoas físicas atingiu 6,55% da carteira de crédito – maior patamar desde maio de 2013 (6,57%).
A deterioração das condições de crédito já começa a produzir efeitos sobre o consumo de bens financiados no varejo. De acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em julho deste ano o comércio brasileiro acumulou quatro quedas mensais consecutivas ‒ sequência observada apenas em julho de 2001, no auge da “crise do apagão”, e em setembro de 2015, quando o País atravessava a maior recessão da sua história econômica recente.
A despeito do quadro ainda favorável do mercado de trabalho, diante do cenário de inércia na condução da política monetária até, pelo menos, o fim de 2025, torna-se provável que o quadro de desaceleração do consumo de bens financiáveis perdure ao longo da segunda metade deste ano.
A inflação em patamares ainda elevados se reflete no comportamento dos preços dos itens típicos dessa data comemorativa. Tendo como referência o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), a expectativa da CNC é que o preço médio da cesta composta por 11 grupos de bens e
serviços relacionados à data apresente variação de 8,5% em relação ao Dia das Crianças de 2024 – uma aceleração ante os +3,1% registrados no ano passado e a maior variação desse conjunto de bens e serviços desde 2022 (+9,9%).
O avanço médio de preços deverá ser puxado por alimentos, como Chocolates (+24,7%); Doces (+13,9%); e Lanches (+10,9%). Itens considerados carros-chefes de vendas nessa data, como brinquedos e artigos de vestuário, tendem a registrar variações menores do que a do nível geral de preços (+4,6%).
