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    Varejo e Indústria receberam R$ 50 milhões em boletos de CNPJs não reconhecidos pela Receita

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    Estudo da Qive revela que R$ 69,5 milhões em valores analisados são de CNPJs que não estão na base da Receita Federal. Saiba como o quadro afeta varejo e indústria

    O segundo capítulo do Panorama do Contas a Pagar 2026, estudo inédito da Qive, revela que, apenas em 2025, os setores de Varejo e Indústria receberam R$ 50 milhões em boletos cuja origem não consta na base da Receita Federal. Apesar de não indicarem necessariamente fraude, os valores apontam para um problema crescente: inconsistências de compliance que dificultam a prestação de contas e pressionam os times financeiros. A concentração desse tipo de ocorrência não é acidental; quanto maior o volume de compras, integrações e pagamentos, maior a chance de dados desatualizados, documentos divergentes e falhas que escapam de controles tradicionais.

    O levantamento verificou mais 3 milhões de boletos processados, totalizando R$ 68,6 bilhões em valores apontados, com 175 mil emissores nas transações. A análise aponta que R$ 2,08 bilhões têm como emissores CNPJs inexistentes da base Qive, e desses, R$ 69,5 milhões não estão na base da Receita Federal, o que pode representar grande risco para as companhias envolvidas.

    Mesmo que nem todos indiquem fraude, o cenário aponta para uma vulnerabilidade significativa para varejo e indústria. Ainda de acordo com os dados, estima-se que gastos com multas por atraso e inadimplência de boleto cheguem a R$ 1,3 bilhões em 2025, levando em conta informações analisadas de janeiro a outubro deste ano.

    “O que queremos mostrar neste capítulo é que a dependência excessiva de operação humana cria margem para erro, e rapidamente se transforma em prejuízo. A operação financeira diária de uma empresa envolve notas fiscais, conciliações, prazos apertados, além de cadeia extensa de fornecedores, exatamente o tipo de ambiente fragmentado em que as tentativas de fraude prosperam. Os golpes se aproveitam de brechas em fluxos manuais, integração fraca entre sistemas e confiança excessiva em e-mails, PDFs e cadastros não verificados”, explica Isis Abbud, co-CEO e Cofundadora da Qive.

    Além do desconhecimento da origem dos documentos, as notas potencialmente frias também são um risco existente. Elas totalizam R$ 9,5 bilhões em valores nos documentos analisados no período. Quase 1% das notas fiscais é manifestada pelo tomador – que é quem contrata e paga o produto – como “Desconhecimento da operação” e “Operação não realizada”.

    “Esse número não representa apenas um prejuízo em dinheiro, mas o tamanho da zona cega que ainda existe entre o fiscal e o financeiro. Para manter o boleto como instrumento seguro depende de um novo patamar de governança que inclua monitoramento ativo, conferência automatizada e visibilidade segmentada por setor e perfil de operação”, explica Chris de Cico, também co-CEO e cofundador da companhia.

    No centro da vulnerabilidade cadastral: varejo e indústria

    Os setores de Varejo e Indústria lideram a vulnerabilidade cadastral, segundo dados da Qive. “Esses são os segmentos que concentram maior volume de notas transacionadas no B2B brasileiro, e naturalmente, são os mais expostos a boletos de CNPJs não reconhecidos. Isso é um reflexo direto das suas cadeias de suprimentos extensas, alto giro operacional e grande diversidade de fornecedores”, aponta Isis. A Qive apontou que, juntos, os dois setores receberam R$ 50 milhões em 2025 em boletos cuja fonte não consta na base da Receita Federal, evidenciando o maior desafio de compliance dentro do ciclo financeiro.

    O levantamento também analisou os títulos que de fato falharam, isto é, os boletos cancelados, bloqueados ou baixados, e os setores envolvidos nesse cenário. O de infraestrutura lidera o maior montante de origem desconhecida e/ou inconsistente, com pouco mais de R$ 500 mil. O mesmo segmento também está na frente com a maior quantidade de boletos que falharam no período analisado, com 90; seguido pela Indústria, com 79; e Varejo, com 48.

    Já sobre as multas e notas potencialmente frias, a análise estima que o varejo domine o custo total, respondendo por R$ 970 milhões; seguido do setor de Serviços, que corresponde a R$ 286 milhões; e Indústria, com R$ 84 milhões. 

    “É visível que esse problema atinge setores vitais da economia, e é essencial que as empresas deixem de depender de checagens manuais ou suposições operacionais. A automação não é uma conveniência, mas uma infraestrutura básica de proteção financeira capaz de transformar risco em segurança e garantir a integridade do processo contra fraudes, inconsistências e perdas”, finaliza Isis.

    A análise faz parte de uma série de capítulos do Panorama do Contas a Pagar 2026, estudo de mercado que revela tendências e práticas financeiras das organizações brasileiras, a partir da análise de milhões de documentos fiscais, boletos, uso de ferramentas e pesquisa quantitativa. O report completo pode ser baixado aqui.

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